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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

JAYME JUCOVSKY

Brasileiro, casado, advogado, nascido na Bahia, em 9 de janeiro de 1924.
Formou-se advogado em Salvador e veio para São Paulo em 1952, onde exerceu a advocacia e a poesia.

 

 

MULTIPLICANTO – POESIA BRASILEIRA HOJE – 3  COLETÂNEA

Capa: Durval Guimarães – Conselho Editorial – Reginaldo Dutra

— Guido Fidelis   São Paulo: Editora Soma, 1980    116 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

AUSÊNCIA

Vou encontrar um sol somente meu
e ser ausência
debaixo da minha própria sombra
ninguém mais
poderá querer de mim
o que nunca tive para dar
Será bom
como será bom
descansar tranquilo
na cama do amor das poucas coisas
que são realmente minhas

 

FATO E ATO

Não quero ficar quieto
fitando um poder de fato
e por rumo mais correto
eu vou viajar meu ato
revido com vaia e veto
a fome sem pão no prato
e tomo por piso e teto
os termos do meu contrato
das regras me resta o exceto
se a força me fere eu luto
que a luta é um exemplo exato
das coisas em que acredito
e a bota que calça o bruto
é o fato do meu conflito
às vezes a voz que escuto
e tudo o que não foi dito
são causas com que disputo
são jaulas em que me agito
do meu tempo sou produto
e arranco a raiz do mito
pois dentro do meu reduto
professo meu próprio rito
de um breve futuro eu broto
afeito a brecar o fato
no mundo melhor que adoto
eu vigorar meu ato
em boa balança anoto
o peso que abaixa o prato
e ao ser humano eu devoto
os termos do meu contrato.

 

 

DOMINGO DE SOL

É domingo. Olho a rua
longa, clara, silenciosa,
com olhos de quieta satisfação.

 

E vejo,
na rua,
um menino
magro, roto, sujo,
sentado na calçada, olhando para a sarjeta

De repente
Olho a rua
silenciosa, longa e clara,
com olhos de intranquila tristeza.

Por que será
que num domingo de sol
um menino roo, sujo e magro,
sentado na calçada olhando para a sarjeta
faz a gente pensar em tanta coisa?

 

FOGO E LUZ

Salmo carnal que desejo canta. Extrema
unção a emoldurar meu mais ardente sonho.
Rima de alucinado amor, com que componho
as estrofes sensuais de erótico poema.

Rubra visão que dentro em mim se inflama. Tema
febril do meu “noturno”, em cujas notas ponho
o úmido e quente arfar desta paixão suprema
e a volúpia que existe em teu olhar risonho.

Mãos que tocam meu corpo em delirante assomo
Beijo de fogo e luz, que fere e fica como
marca de ferro e brasa em minha pele aberta.

Nestes braços a vida inteira está desperta.
Sobre estes seios, chego à beira do infinito.
E é neste corpo que, morrendo, ressuscito.

 

*

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Página publicada em novembro de 2021


 

 

 
 
 
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